Eu tenho pensado muito na vida de uns tempos pra cá. Nas coisas que eu já fiz, e naquelas que deveria ter feito. Acho que isso começou quando completei meus 18 anos, aquela idade que todos acreditam ser a melhor e mais especial de nossas vidas - e se enganam totalmente ao pensarem isso. É engraçada a forma como o peso desses números mexe com a sua cabeça. 18 anos. Dezoito anos. Dezoito. Dez mais oito. Nossa, como o tempo passa. Como passa rápido. E aqueles pensamentos do tipo “parece que foi ontem…” invadem a sua mente de uma forma assustadora.
Pode parecer besteira, mas completar dezoito anos e não ter uma namorada (leia-se “alguém para amar e assistir filmes naquelas tardes chuvosas de sábado”) é deprimente. Fora o fato de ter de encarar aquela tia dos almoços de domingo que insiste em perguntar sobre as namoradas, você só tem uma única opção para se sentir normal: fazer merda. Aquelas típicas idiotices, como sair na sexta-feira para encher a cara, voltar cambaleando para casa no dia seguinte e enfrentar um dia inteiro de ressaca, ou ir para uma balada qualquer e beijar o maior número de garotas que conseguir. Coisas que fazem você se sentir normal perante a sociedade, mas um idiota perante você mesmo. E o mais engraçado de tudo isso é que você acaba encarando essas situações como algo normal, mesmo desejando que as suas noites de sexta-feira fossem andando pelos corredores de um shopping qualquer segurando a mão daquela garota tão especial, pra depois entrar na última seção do filme mais idiota possível, porque na verdade você não estaria ali para assistir a nada, e sim para trocar uma porção de beijos, abraços e mordidas no pescoço.
Sem contar os comentários. Parece ser uma regra invisível, daquelas que estão escritas nas mentes de todas as pessoas, mas que todas elas negam ter conhecimento. Todo garoto que chega aos seus dezoito anos sem nunca ter namorado ao menos uma vez corre um sério risco de ser homossexual. Gay. Viadinho. Bichinha. Nem que seja um desses namorinhos de uma semana com a mais piriguete do bairro. É só pra constar. Pra se provar. Pra se garantir. Para que aquela tia dos almoços de domingo possa ouvir uma resposta positiva ao menos uma vez na vida. Aquela tia, mulher daquele tio que costuma fazer a piadinha infame do pavê.
Estudar em uma escola predominantemente masculina não ajuda muito. Ainda mais no meu caso, que não vejo a menor graça em jogar ou assistir futebol, e muito menos em passar horas e horas discutindo sobre qual time é o melhor numa mesa de bar bebendo uma cerveja barata de quinta categoria. As pessoas te encaram de uma forma diferente. Ah, ele é o garoto da calça apertada. E que não joga bola. Talvez ele possa apitar o jogo. Felizmente, eu acabei descobrindo que tenho personalidade o suficiente para manter amizades com todos, mesmo sendo um tanto quanto diferente em relação à maneira de passar o tempo. E pelo menos dentro do meu círculo de pessoas, consegui fazer com que todos entendessem que não gostar de futebol é uma coisa normal.
Aliás, eu me relaciono facilmente com as pessoas. Não sou uma daquelas pessoas que voam abaixo do radar. A maioria parece gostar de mim, ou pelo menos me tolerar. Sei a hora certa de falar e a de ficar quieto. Sei o que falar, e principalmente, o que não falar. Talvez por isso eu só tenha saído na porrada com alguém uma vez na vida.
Falar dos meus sonhos para alguém não é nada fácil. Talvez porque a maioria dos homens sonhem em se casar com a garota mais gostosa que encontrarem, arrumar um emprego de contador em uma fábrica de caixas de papelão e passar o dia todo atrás de uma mesa fazendo cálculos e ouvindo os resmungos do chefe, suportando tudo isso apenas porque sabem que no fim-de-semana poderão beber uma caixa inteira de cerveja e se esparramar no sofá para assistir o Zorra Total. Meus sonhos não estão tão distantes disso, mas vão muito além. São mais detalhados, mais cheios de vida. Na verdade eles são tantos que eu nem sei por onde começar.
Parte 01: Encontrar você. A mulher da minha vida. Ou, nesta altura, a garota da minha vida. Que fará todos os homens sentirem inveja de mim. Não porque ela colocou 500ml de silicone, mas porque é única. Porque é linda de uma maneira singular, e é capaz de fazer qualquer pessoa sorrir apenas com seu olhar penetrante e sua voz suave. E irei me casar com ela. Compraremos um apartamento qualquer e teremos uma relação baseada em amor, sexo e amizade. Passaremos o dia todo trabalhando e na faculdade, e quando chegarmos de noite, tomaremos um longo banho juntos, comeremos uma besteira qualquer, deitaremos na cama e ficaremos ali. Eu deitado, e ela com a cabeça recostada sobre o meu peito, sentindo a minha respiração. Sem nenhuma palavra. Apenas curtindo o momento.
Parte 02: Um desespero inicial. Você entrará aflita no quarto com alguma coisa nas mãos. Eu não irei notar de imediato do que se trata, até você dizer “Estou grávida!” Ficaremos preocupados, desesperados e roeremos todas as unhas que pudermos. Nossas noites de sono desaparecerão e teremos longas conversas durante a madrugada regadas a xícaras de café e biscoitos recheados. Tomaremos uma decisão importante. E nove meses depois, eu estarei no trabalho, até meu celular tocar e eu ouvir a sua voz cansada dizendo que está sentido as primeiras contrações. Largarei tudo para trás e dirigirei o mais depressa possível, para te levar até a maternidade para recebermos o primeiro fruto do nosso amor.
Parte 03: Uma família feliz. Nosso bebê chegará ao mundo. Uma linda menina chamada Mirella, que animará nossas noites de sono com choros e fraldas a serem trocadas. Olheiras surgirão, e bocejos inesperados durante o dia se tornarão comuns. Mas a felicidade no peito será enorme. No trabalho, todos ficarão curiosos em saber quem é a nova integrante da família, e lhe darão presentinhos fofos e meigos para enfeitar o quarto. E a cena mais perfeita que verei na vida será você sentada na poltrona do quarto fazendo o nosso bebê dormir enquanto canta uma musiquinha infantil qualquer. Sei que seremos felizes assim.
Talvez algumas pessoas caiam na gargalhada ao ouvirem isso, e eu entendo. Homem de verdade tem que ser babaca para ser considerado homem. Bem mais babaca do que eu. Daqueles que vão para a academia disputar quem consegue erguer mais peso. Eu não posso falar muito, pois também faço academia, mesmo que acabe não conversando com quase ninguém por lá. Talvez o mais importante seja se lembrar de que a cabeça de cima ainda é mais importante que a de baixo, pelo menos para as mulheres de verdade. Aliás, este é o grande erro dos homens que sofrem por amor: confundir menininhas com mulheres. E não se engane, isso vai muito além da idade contida no RG. Isso é sobre quem realmente somos por dentro.
Não sei se sou normal, e sinceramente, acho que nem quero saber. Já passei dezoito anos da minha vida vivendo da maneira que achei melhor, mesmo ouvindo várias pessoas a criticando. Pessoas em quem eu confiava, e falaram de mim pelas costas. Já ouvi uma tia dizer que não possuo vida própria, e um primo dizendo que sou o anti-social da família. E o mais irônico em ouvir isso é saber que dos seis tios que tenho, sou o sobrinho preferido de quatro deles. Deve ser o resultado da receita que criei para a minha vida: sinceridade + humildade.
E quanto aos sonhos, continuarei sonhando. Imaginando cada cena, e criando detalhes ainda mais perfeitos. É o máximo que posso fazer enquanto ela não chega. Só posso sonhar. Mas sei que vou realizar tudo isso. O primeiro ingrediente eu já tenho: vontade. E pro resto, a gente sempre dá um jeitinho.
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